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quarta-feira, 17 de agosto de 2011

NADA É IMPERDOÁVEL.

   Não é fácil e nem simples perdoar alguém que fechou os olhos para sua existência durante anos, mesmo que esse alguém seja o seu próprio pai?! Isso mesmo... Meus pais se disvorciaram a mais de 10 anos e dos anos que ficaram juntos resultou em 3 filhos: Jhuliane, Wallace e eu (William), o caçula, o que menos teve contato com ele (meu pai), o que menos recebeu atenção dele, o que menos recebeu amor e ,portanto, depois de tantos menos eu era merecedor ainda de um mais: O QUE MAIS SOFREU! (admito).
   Durante anos nos relacionamos só e somente por aparências, já que por frequentarmos o mesmo espaço (a casa da minha avó paterna) tínhamos que fingir uma relação cordial que na realidade não existia de fato. Não trocavamos muitas palavras, nem preocupações um com o outro, nem afeto e muito menos sorrisos. Mas uma coisa eu fazia questão, preferia a companhia de pessoas sem nenhuma ligação familiar comigo à dele. 
   Certa vez nossas máscaras caíram e entramos em uma discussão horrível, para ambos era um tipo de acerto, a hora da verdade, colocar em pratos limpos, não deixar pedra sobre pedra. Assim, falei tudo o que precisava realmente falar e o meu pai sentiu em minha voz o ódio, a angústia, o sofrimento de um filho desesperado, carente. E pela 1ª vez ele viu o meu rosto, agora sim sabia quem eu era realmente nada de máscaras. Assim sendo, de forma foraz , como uma cobra expeli o meu veneno e disse barbaridades a cerca dele e daquele relacionamento ridículo que levávamos, em suma, o humilhei. Quase as agressões, que até então eram verbais, se tornaram físicas o que seria uma lástima. Após esse episódio fui ao fundo do poço, fui para minha caverna e de lá jurei não mais sair. Perdão? Desculpas? Haviam sido deletadas por mim naquele mesmo dia.
   Após tal acontecimento a raiva que eu sentia, a qual outrora era exclusiva minha contagiou vários familiares nossos, pois todos sabiam de quem era a ignorância suprema, a indignidade visível, a excepcional vontade de ser estúpido, enfim naquele momento meu pai era um nada, o enterrei vivo, sem direito a um velório, a uma despedida digna, ou seja, naquele momento ele era um indigente.
   Durante muitos dias o William tentava aparecer e sorria contagiando a todos como sol, entretanto era só a noite se mostrar presente, forte, e firme que o William dava lugar ao o William Silva. Quandou fui esse, chorava todas as noites e o meu pai nada, pouco se importava.
   Até que nos aproximamos novamente, e parecendo duas crianças que brigaram e não conseguem sequer trocar olhares, necessitamos de uma intervenção quase que divina, pois foi muito difícil dribrar o orgulho que protegia a briga e a fazia imperdoável. A atual companheira dele se encarregou desse papel, dessa missão quase que impossível, a qual ,infelizmente, foi desgastante para nós dois e acredito que para ela também. Fomos cedendo aos poucos, e é com muita alegria que falo com toda a sinceridade e sem medo de me arrepender posteriormente que me sinto muito feliz agora, alegre como nunca havia estado antes em relação a ele.
   E o golpe final em nossas diferenças foi sacramentado(eu acho) recentemente, no dia dos pais. Dia esse que não guardo muitas lembranças boas de anos anteriores, afinal sempre era péssimo, falso, desnecessário, pouco importante para mim e por isso que não negarei que repudiei inicialmente o convite da sua companheira de almoçar com ele, para mim a ideia não era nada boa. Mas decidi ir e quase desisti depois, contudo e felizmente, fui e enfrentei de frente meus fantasmas, sai do poço, da minha caverna para tentar ficar próximo de alguém que vem provando que se arrependeu e sofreu bastante por ter feito a escolha errada, e vem sofrendo amargamente por tal escolha. Acho que o meu papel agora é tentar mudar isso.
   Tudo o que o meu pai me fez agora é pretérito, não vou negar, não vou ser hipócrita a ponto de dizer que esqueci tudo, mas tento colocar isso no esquecimento, apesar das vozes surgirem constantemente tentando me derrubar. Enfim sigo forte. Mas até quando? Não sei, às vezes tenho medo de um deslize dele ou meu mesmo, afinal a cicatrização desse tipo de sofrimento é mais demorado e requer cuidados especiais. Por enquanto vivo o presente, os bons momentos, recebendo dele o que me faltava e dando o que ele precisa agora. Pai. eu te amo! Não é fácil e nem simples perdoar alguém que fechou os olhos para sua existência durante anos, MAS É POSSÍVEL. E assim, termino esse texto como o comecei, mas com a convicção de que nada é imperdoável.